Como dizer não de forma positiva
É necessário que os pais digam “não” a uma criança para que a criança mais tarde possa dizer “não” a si mesma. Todas as crianças — e alguns adultos — têm dificuldade em adiar a gratificação. “Eu quero agora”; “quero que o pai e a mãe me respondam sim quando eu desejo alguma coisa”. As crianças não têm, de início, capacidade cognitiva e emocional para adiarem os seus desejos
Algumas orientações que vos podem ajudar a dizer “não” sem stress e de forma positiva
1. Estabelecer um equilíbrio entre o “não” e o “sim”
Como os pais raramente dizem “não” as poucas vezes que o fazem provocam nas crianças um sentimento de frustração. Se pelo contrário os pais dizem “não” por tudo e por nada, a criança acredita que o mundo é um lugar negativo e vai crescer uma pessoa negativa. O mundo real é feito de “sim” e de ”não” e se houver bom senso da parte dos pais, produz-se uma aprendizagem nas crianças e uma interiorização progressiva do que podem ou não fazer.
2. O ”não” em desenvolvimento
A arte de como dizer não desenvolve-se com o seu bebé. Durante o primeiro ano de vida, não há nas crianças, distinção entre necessidades e desejos. Os pais, neste período dizem sim, ou comportam-se como tal. Durante o segundo ano, os desejos do bebê não são sempre seguros ou saudáveis; desta forma os pais dirão sim ou não consoante os contextos. Dos nove aos quatorze meses, o não vai crescendo no comportamento dos pais. “Entre os quatorze e os dezoito meses, os bebés frustram-se com muita facilidade sempre que são contrariados.
Neste período os pais têm que ter coragem e energia suficientes para dizer não, o que exige, em muitos casos formas criativas de atuar.
3. Usar alternativas criativas para dizer “não” de forma positiva
Muitas vezes para se conseguir dizer não de uma forma positiva é necessário mudar de ambiente e de contexto. Se uma criança teima em fazer coisas que não pode, a melhor forma para lidar com esta situação é mudar o seu ambiente e, por exemplo sair de casa.
Fora de casa, num parque infantil, o seu filho pode andar à vontade porque está num lugar seguro. Para os pais pode ser um bom momento para lerem o jornal ou uma revista do seu interesse.
4. Ensinar as crianças a pararem
Desde muito cedo que as crianças têm que aprender a parar; para isso, os pais têm que utilizar a linguagem corporal, já que a palavra não é ainda descodificada da melhor forma e deve ser utilizada quando o desenvolvimento cognitivo permitir aceder ao seu significado. Sempre que a criança parar uma actividade que lhe não é conveniente, os pais devem corresponder com olhares de orgulho e de aprovação, de gestos de deleite e prazer. Devem, ainda, abraçá-la e dizer “Eu gosto muito de ti”.
5. Treinar sons diferentes para comportamentos diferentes
Muitas vezes uma mudança de humor ou a introdução de gestos não são suficientes para parar ou redireccionar as acções impulsivas. As palavras são necessárias. As crianças aprendem desde cedo que a disciplina imposta através de palavras tem poder e exige uma resposta mais rápida do que a disciplina imposta através de outras formas. As crianças aprendem também, muito precocemente que os diferentes tons de vozes que os pais utilizam têm significados diferentes. Os pais podem treinar formas diversas de exercitar a sua linguagem quando querem que os filhos parem com uma actividade que não lhes é aconselhável. Devem adaptar a intensidade do som consoante a gravidade do comportamento. Sons mais altos e mais intensos devem ser aplicados perante situações de verdadeiro perigo.
6. “O olhar” disciplinador
Os pais podem aprender a dizer não sem dizer uma palavra. Um olhar de desaprovação pode ser muito eficaz para parar um comportamento. O domínio do olhar”, pode ser decisivo. Lembrem-se, que os vossos olhos revelam o que estão a pensar e a sentir. Muitos pais transmitem através do olhar sentimentos de raiva ou desprezo para com os filhos, sentimentos que rapidamente são descodificados pelos filhos. Se os pais reconhecem o que está a acontecer e se apercebem do que as crianças estão a sentir é bom que os adultos conversem com os filhos sobre o que o assunto.
Seja como for, é importante que a criança entenda que os pais desaprovam o comportamento e não a criança. Sentido, é importante dizer, com um abraço, um sorriso ou uma explicação a, “não gosto do que fez, mas continuo a gostar muito de si.”
7. Criar alternativas para a palavra “não””
Os pais não devem exagerar a repetição constante do “não”, porque se o fizerem, o “não” deixa de ser eficaz e perde a sua força disciplinadora. Devem usar palavras mais específicas que se adeqúem às situações. O ideal será acompanhar o “não” de uma explicação racional., por exemplo “o dia está muito frio, por isso se te molhas a brincar com a água, podes ficar doente”. Se os pais usarem, desde cedo, e de forma tranquila, frases para corrigir o comportamento dos filhos, as crianças rapidamente apreendem que o “não” é uma prova de amor e de protecção
8. Evite contextos em que o confronto é mais difícil de resolver
Quando, por exemplo, os pais levam os filhos a uma loja de brinquedos, para comprar um presente de aniversário para o amigo do seu filho, apercebem-se rapidamente que ele se desmotiva rapidamente de comprar um presente para um amiguinho e o que lhe interessa é correr a loja de forma impulsiva e sem controlo para escolher presentes para ele.
Para evitar o inevitável os pais podem dizer “Não, não podes ter esse brinquedo”.
É importante que antes de irem para a loja se explique a situação: “o que vamos fazer não é comprar presentes para si, mas comprar um presente para o teu amigo que hoje faz anos”.
9. A importância do “não” no desenvolvimento infantil
Dizer “não” é importante para o desenvolvimento da criança e ajuda-a a estabelecer a sua identidade como indivíduo. Os pais não podem considerar que os comportamentos de oposição das crianças são sintomas de rebeldia ou de rejeição da sua autoridade. Alguns sentem que não devem tolerar, nos filhos, qualquer tipo de transgressão às suas ordens e normas, porque pensam que ao permitirem esse comportamento estão a diminuir a capacidade de exercer a sua autoridade.
O que se passa é que as crianças têm de experimentar os limites dos pais. Estes podem aprender a respeitar os desejos individuais dos filhos e continuar o exercício da autoridade. Quando a criança cresce, a capacidade de conviver com colegas em determinadas situações (roubo, mentira, drogas e assim por diante), vai depender da sua capacidade de ter aprendido a dizer não e a rejeitar situações que prejudicam, seriamente, as suas vidas.
10.Personalizar o “Não”
Se os pais tendem a gritar com os seus filhos, é importante que personalizem a reprimenda e digam, por exemplo “Joana, não quero que tornes a repetir este comportamento”. Com efeito, uma frase personalizada suaviza o som e respeita a criança, objecto de repreensão.
11.Colocarmo-nos no lugar do outro
Para dar aos seus filhos tudo o que eles precisam, alguns pais correm o risco de lhes dar tudo o que eles querem. Quando as mães começam a dizer “não”, em momentos apropriados, com confiança, firmeza e ternura podem fazê-lo sem correr o risco de ameaçar a criança.
Por tentativa e erro, aprendemos que qualquer desejo de uma criança merece ser ouvido, como merece ser ouvido o seu ponto de vista. O facto de a ouvirmos e de sermos capazes de nos colocar no lugar dela (criança) não significa que vamos mudar de opinião ou alterar a nossa decisão.