O divórcio e a separação dos pais e as suas consequências na vida emocional dos filhos

divorcio

 

 

O divórcio e a separação dos pais é sempre um processo doloroso que envolve, em muitos casos, fortes sentimentos de tristeza, de perca e de frustração.

É uma situação, habitualmente perturbadora quer para os adultos, quer para as crianças, sendo que, principalmente, estes últimos podem experimentar vários níveis de mal-estar.

Os filhos vivenciam a situação como desestabilizadora e desestruturante e as suas vivências podem abarcar um leque muito vasto e diversificado de sentimentos e emoções. Podem sentir tristeza, saudade, preocupação, insegurança, pena, confusão, culpa ou até mesmo alívio (em casos de grande conflito).

É uma situação transitória que exige a todos os membros da família uma reorganização e adaptação.

As questões psicológicas e emocionais não devem ser negligenciadas. Para que os filhos não sofram consequências traumatizantes com o divórcio, é muito importante o ambiente familiar e a maneira como os pais e outros elementos da família conduzem a separação. Ela deve ser feita de uma forma segura e com muito bom senso para que se possam evitar riscos de traumatizar os filhos em plena fase de desenvolvimento físico e psicológico.

Contudo, é importante ter consciência de que as reacções e a adaptação dos filhos face ao divórcio dos pais diferem em função de alguns factores e situações, designadamente:

– A gestão financeira – normalmente verificam-se alterações, que podem agravar ou dificultar a adaptação.

– A personalidade dos filhos – a resposta dos filhos ao divórcio varia em função das suas características pessoais, podendo ser diferente de criança para criança.

– O conflito entre os pais – a adaptação dos filhos ao divórcio depende da forma como os pais gerem o conflito entre si.

– A cooperação entre os pais – uma relação de colaboração e ajuda entre os pais facilita a adaptação dos filhos às mudanças que poderão surgir nas suas rotinas.

– A custódia dos filhos – a gestão da custódia influência fortemente a forma e o ritmo de adaptação dos filhos, sendo importante manter a proximidade dos pais.

– A idade dos filhos – a forma como os filhos compreendem e se adaptam ao divórcio, e a maneira dos pais comunicarem a separação, depende sempre da idade das crianças.

– A disponibilidade dos pais – a capacidade dos pais para manterem respostas adequadas às necessidades dos filhos condiciona a adaptação.

 

A forma como os filhos reagem, em função da sua idade

 

As crianças de 3 a 5 anos, podem ser particularmente susceptíveis, uma vez que o seu desenvolvimento cognitivo não as ajuda na resolução e compreensão de situações complexas. Ficam confusas, e podem, em consequência manifestar indicadores de regressão no seu desenvolvimento, como por exemplo, molhar a cama, manifestar medos, apresentar alterações do sono e tornarem-se irritáveis, exigentes, e mais dependentes dos pais.

 

Uma criança de 7/8 anos poderá não dar tanta importância à separação, mas pela dificuldade de compreensão e pela perda dos referenciais paternos e maternos poderá apresentar uma grande tristeza, diminuição do rendimento escolar e ter consequências mais graves como vivenciar uma depressão infantil. Pode igualmente, manifestar dificuldades de relacionamento e de adaptação sociais e o seu comportamento poderá passar a ser agressivo.

O adolescente embora com maior consciência e compreensão da situação que está a ser por si vivida, pode vir a prejudicar o seu processo de formação da identidade pela mudança e falta dos pais. No plano do comportamento manifesto, poderá ter tendência a questionar a autoridade e como consequência a apresentar uma rebeldia excessiva, dificuldades em aceitar regras e limites, bem como, dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento escolar. Pode reagir de forma depressiva e manifestar a depressão através de uma raiva intensa ou de com comportamentos rebeldes e desorganizados.

Há, no entanto, adolescentes que conseguem viver a experiência de uma forma mais tranquila e embora tristes passam pela separação dos pais de uma forma equilibrada.

 

Como ajudar os filhos na adaptação ao divórcio ou separação

A forma mais saudável e menos traumática para viver uma separação é através de uma postura equilibrada, onde os pais explicam a separação aos filhos com honestidade e serenidade para que estes compreendam e aceitem a situação com naturalidade. Esse é um momento essencial para que a separação ocorra da melhor forma possível e com o mínimo de sofrimento para os filhos.

Algumas orientações a ter em conta:

  • Procurar manter, tanto quanto possível, as rotinas dos filhos;
  • Exercer um tipo de disciplina que seja consistente nas duas casas, isto é, tentar que as regras negociadas com os filhos sejam semelhantes em ambas as casas;
  • Assegurar aos filhos todo o apoio emocional de que necessitam;
  • Comunicar um com o outro e cooperar entre si de forma a assegurarem o mínimo de alterações possíveis na vida diária dos filhos;
  • Assegurarem-se de que os filhos mantêm um contacto frequente e de qualidade com o pai que não obteve a sua custódia;
  • Libertar os filhos de stress desnecessário e acessório;
  • Dar atenção ao desenvolvimento da capacidade de adaptação que os filhos vão construindo ao longo da nova situação familiar;
  • Incentivar os filhos a expressar os seus sentimentos face à nova situação e clarificar-lhes qualquer dúvida.

Ainda assim, é natural que surjam algumas situações conflituosas entre os pais em todo o processo de divórcio. Para que os filhos se adaptem da forma mais saudável possível ao divórcio dos pais, torna-se fundamental que os pais saibam isolar os seus conflitos dos seus filhos, isto é:

  • Não envolvam os filhos no conflito;
  • Não exponham os conflitos na presença dos filhos.

É importante que os pais se sintam responsáveis, que preservem uma conduta coerente, afectiva e educativa, mantendo sempre os filhos bem informados e apoiados, para que as crianças ou jovens se sintam amados e seguros e adquiram instrumentos psicológicos e emocionais que lhes permitam aceitar a mudança e prevenir situações de sofrimento e angústia.

Os pais têm que ter consciência de que as funções de parentalidade não se alteram em função de estarem juntos ou separados. É muito importante para um desenvolvimento psicológico saudável dos filhos que eles sintam segurança afectiva e “amor” de ambos os pais.

2 thoughts on “O divórcio e a separação dos pais e as suas consequências na vida emocional dos filhos

  1. Luana Ribeiro da Cunha

    Adorei! Realmente ajuda muito a entender esse universo chato que pode ocorrer na vida de um casal.
    Mas esperei em contrar algo sobre a vida pós separação, quando os pais encontram os companheiros, como agir? E se for crianças pequenas?
    Um abraço. Obrigada.

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